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Grafismo infantil: vivĂȘncias com a arte

  • Foto do escritor: Marcela Chanan
    Marcela Chanan
  • 1 de nov. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de fev. de 2023

Por Marcela Chanan




"No que se refere a visualidade, as crianças podem aprender a utilizar diferentes ferramentas, suportes e materiais e experimentar diversas posiçÔes espaciais e corporais para desenhar (sentadas, em pĂ©, deitadas de bruços etc.), assim como explorar variadas possibilidades de traçar garatujas, ocupar o espaço com traços emaranhados, riscos, cĂ­rculos, espirais, de modo bem pessoal. Elas percebem que seus gestos produzem marcas estĂĄveis, os desenhos. (...) As crianças podem aprender a usar novos materiais e ferramentas para explorar objetos e fenĂŽmenos que envolvam diferentes possibilidades de cor em seus desenhos e pinturas (...)”

(OLIVEIRA, 2018, p. 60 e 61)


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Neste ano um dos meus temas de pesquisa como educadora da infùncia foi o grafismo infantil. A motivação para realizar essa proposta surgiu da observação da (pouca) relação das crianças com os espaços e materiais para arte, aliada ao convite de planejar um projeto no meu campo de interesse. E assim pensei em como poderia contribuir com o desenvolvimento do sensível, da expressão e da criatividade pelo desenho e pela pintura.


Esse trabalho aconteceu em um espaço de educação não-formal com um grupo de (13/15) crianças, entre entre 1 e 4 anos de idade. A proposta durou 8 meses e foi realizada no contexto de produção coletiva, inicialmente, uma vez por semana.


Havia uma varanda de artes secas onde os materiais estavam organizados ao alcance das crianças e podiam uså-los com autonomia (essa era a proposta). Na varanda de artes molhada tinham algumas ferramentas e potes a disposição, mas as tintas e corantes ficavam no alto sem o acesso das crianças, era preciso pedir o que gostariam de usar e o adulto avaliava a possibilidade naquele momento ou em outro.


Acredito na importĂąncia de materiais artĂ­sticos disponibilizados livremente, porĂ©m as propostas com intencionalidade educativa compĂ”e um conjunto de referĂȘncias para que as crianças possam buscar a arte no cotidiano, garantindo o desenvolvimento expressivo, criativo e sensĂ­vel.


“A expressão infantil se inicia pela exploração e se organiza pouco a pouco conforme a sensibilidade do professor aponta para elas certos procedimentos e lhes disponibiliza materiais, de maneira a não aprisionar seu processo criativo nas mesmas fórmulas” (OLIVEIRA, 2018, p. 57)

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A minha principal intenção foi despertar o interesse por desenhar considerando a diversidade de materiais, planos e superfícies; em um segundo momento trabalhar com a percepção das suas marcas (linhas, formas, volumes, planos) e com as cores, pois é frequente que façam aquela massa de cor e queria chamar a atenção para novas possibilidades com a arte, além da exploração sensorial. Como meio de expressar suas emoçÔes, imaginação e situaçÔes do cotidiano. Portanto, considerei a necessidade de:

  • preparar ambientes instigantes e diversificados para a exploração e criação;

  • proporcionar experiĂȘncias estĂ©ticas sensĂ­veis;

  • observar as intençÔes de criação e preferĂȘncias estĂ©ticas;

  • registrar todo processo e

  • alimentar percursos expressivos.

Com intençÔes mais específicas (e aqui simplificadas):

  • utilizar materiais artĂ­sticos variados em diferentes planos e superfĂ­cies;

  • traçar marcas grĂĄficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas;

  • exercitar a autoria individual dentro da coletiva;

  • participar da tomada de decisĂŁo relativa Ă  escolha de materiais e

  • conhecer-se e reconhecer-se no contato criativo.

Os riscantes sĂŁo instrumentos para deixar as marcas: o giz, o lĂĄpis, o pincel, a terra, a tinta, o carvĂŁo, entre outros. Os suportes sĂŁo diversos: papĂ©is, papelĂŁo, plĂĄstico bolha, tecido, parede, chĂŁo, areia, vidro, entre outros. A disposição dos materiais Ă© outro elemento muito importante: cobrir bancos, paredes, chĂŁo, brinquedos do parque, pendurar, entre outros. É valioso pensar nas combinaçÔes que estes materiais e suas disposiçÔes podem oferecer em relação a diversidade de experiĂȘncias e considerar a necessidade de repeti-las.

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A participação nas propostas aconteciam de acordo interesse de cada um, enquanto uns desenhavam, outros estavam no quintal, na biblioteca ou no salão brincando. Essa era a intenção, trabalhar como se fosse uma sessão de 3, 4 crianças por vez. Não teve um tempo de duração fixo, mas a média era de 30 minutos.


Durante todo o processo pude acompanhar o desenvolvimento de cada criança, suas expressĂ”es singulares, seus interesses e suas formas surpreendentes de criar e se relacionar com a arte. Me concentrei no campo das artes nesse relato, porĂ©m outros campos se articulam nessa experiĂȘncia.


Conforme as propostas foram acontecendo pude observar como as crianças se organizavam para participar da proposta, a interação entre elas, as sensaçÔes, o movimento corporal, as descobertas, o desenvolvimento do grafismo, as narrativas e o que despertava a curiosidade e o interesse. Até meu corpo virou suporte!

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Quando me viam mexendo nos materiais jå sabiam que iria preparar algo: esperavam, ouviam as orientaçÔes e participavam! Ouvir as orientaçÔes e observar o resultado delas, foi algo que aprenderam e perceberam o valor que tem (isso porque o que viviam era totalmente livre sem um encaminhamento). Tive a impressão que o elemento surpresa era o resultado da produção, principalmente as pinturas; algumas crianças chamavam os pais para ver com orgulho e isso não acontecia antes nas exploraçÔes sensoriais. Maravilhoso! Não desmerecendo as sensoriais, mas elas jå sabiam a diferença.


Esse relato Ă© um recorte dessa experiĂȘncia, houveram outros desdobramentos inclusive percursos individuais impulsionados por esse trabalho.


Me emociono de escrever essa publicação! As crianças são minha motivação, tenho orgulho de ser uma profissional da educação, em meio a tanta desvalorização e desrespeito com a pedagogia me afirmo cada vez mais! Ser professora de educação infantil é uma grande honra!


*Essa experiĂȘncia foi apresentada no V SeminĂĄrio Nacional de Educação Infantil da UFCG - InfĂąncia, Arte e Produção Cultural em 2021 com publicação de ANAIS e tambĂ©m no Educação em rede da Composição Formação, confira a gravação aqui.

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“(...) O olho vĂȘ, a lembrança revĂȘ, e a imaginação transvĂȘ. É preciso transver o mundo. Isto seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades (...)”

Manoel de Barros


*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cĂłpia sem autorização prĂ©via. O compartilhamento da publicação na Ă­ntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) Ă© livre. E para impressĂŁo Ă© obrigatĂłrio colocar a referĂȘncia.


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ReferĂȘncia bibliogrĂĄfica


MEC; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Campos de experiĂȘncias: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil. SĂŁo Paulo: Fundação Santillana, 2018.


CHANAN, Marcela Juliana. A arte na primeirissíma infùncia: um convite à exploração, à brincadeira, à vida. 2015. 85 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) Instituto Singularidades, São Paulo, 2015.

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