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  • Foto do escritorMarcela Chanan

Os bebês e o cesto dos tesouros

Por Marcela Chanan




O cesto de tesouros é uma proposta que aprecio desde que comecei a me interessar pelo mundo dos bebês na pedagogia e me serve de inspiração em diferentes contextos.


Mas o que é o cesto de tesouros? É uma brincadeira exploratória, de descobertas, capaz de aguçar a curiosidade do bebê por meio da possibilidade de manipular materiais pré-selecionados por um adulto. Os materiais podem ser comprados, confeccionados ou colhidos da natureza e devem oferecer estímulos sensoriais diversificados (tato, olfato, paladar, audição, visão e movimento corporal).


O cesto também sustenta o bebê nas suas explorações já que um adulto não pode ficar o tempo todo com ele e os brinquedos comuns, frequentemente, são deixados de lado. Vocês já devem ter reparado que há uma fascinação dos bebês e crianças pequenas pelos objetos do cotidiano, que não são um brinquedo comprado.


Para montar um cesto de tesouros considera-se a variedade e a qualidade dos objetos selecionados e um cesto para que haja facilidade de alcance e escolha dos objetos. Para cada sentido há algumas variáveis como textura, formato, peso, cheiro, sabor, som, cor, forma, brilho e medida/comprimento. E que tipos de objetos seriam? Naturais, feitos de materiais naturais, de madeira, de metal, de couro, têxteis, borracha, pele, papel, papelão, etc. Também é preciso atenção para segurança dos bebês para que não tenham peças que possam ser engolidas, cortantes e que sejam laváveis, secáveis ou descartáveis. A ideia é ter o mínimo ou não ter plástico e brinquedo comprado.


A partir dessa proposta o bebê é exposto a diferentes aprendizados tanto dos objetos, quanto de si mesmo. Ao observar a exploração dos bebês ao redor desses materiais é possível acompanhar as descobertas e a concentração pelo qual eles se mantêm e compartilham com o adulto pelo olhar, balbucio ou emoções. O bebê explora com autonomia, do jeito dele, por exemplo não é preciso mostrar que um objeto faz um som, ele descobrirá por iniciativa própria.


Nessa exploração os olhos, mãos e boca (em um segundo momento o movimento corporal) trabalham juntos implicados em descobrir o que é aquele objeto e o que ele pode fazer. São ações como sugar, lançar, sacudir, bater, relacionar e selecionar os objetos mais interessantes que bebês colocam em prática com muito engajamento, além de verificarem as diferenças entre os objetos (a partir das características dos mesmos) e os que lhe trazem sensações agradáveis e desagradáveis. Todo o corpo está envolvido na exploração, usam até os pés para segurar, sentir objetos e até os dedos dos pés esticados parecendo comunicar algo.


O adulto acompanha a proposta sem intervir: observa e se mantém atento e relaxado. Como o cesto dos tesouros possui diversos objetos o que pode gerar certo estranhamento, sensações e entusiasmo, o adulto tem esse papel de apoio tanto das emoções que essa exploração pode trazer, quanto nas interações com outros bebês.

Para que o cesto de tesouro continue sendo interessante e um lugar de descobertas é preciso que ele se renove, que ganhe novos itens e que alguns sejam retirados. Há também a possibilidade de criar cestos por temas.


Durante o uso dos cestos dos tesouros, o adulto deve garantir que as crianças maiores não interfiram nesse momento de exploração e que os itens permaneçam no cesto ou ao redor. Portanto, se há esse interesse pelos materiais do cesto, o ideal é que seja oferecido outros objetos planejados e contextualizados para os maiores, nessa perspectiva, existe o brincar heurístico, que seria a continuidade do cesto dos tesouros. Um estágio em que um ambiente é planejado e organizado com materiais que são observados a partir do interesse das crianças nas explorações do cotidiano, como se fosse uma atividade com determinado tempo de duração e com o uso dos materiais apresentados para pesquisas e investigações.


A transição de um momento para o outro, ou seja, do cesto dos tesouros para o brincar heurístico acontece depois do primeiro ano de vida, no qual o bebê já se movimenta com maior frequência e se afasta um pouco do cesto, porém permanece próximo nas suas explorações. Nessa fase deixar alguns recipientes por perto para ações de colocar e tirar pode ser o suficiente para mantê-lo concentrado. Outros preferem explorar e depois caminham para outros ambientes, demonstrando um tempo de concentração, porém o desejo parece ser levar o objeto consigo por onde for.


Nesse brincar os bebês se interessam pelo outro e pela atividade do outro num processo de interação ao mesmo tempo que manipulam, escolhem e exploram os objetos do cesto. Então é comum que se comuniquem por meio de sorrisos, olhares, toques, balbucios (ou mesmo pelas primeiras palavras), compartilhem do mesmo objeto e entrem em disputas, o objeto funciona como uma ponte para essa troca interativa.


*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre. E para impressão é obrigatório colocar a referência.


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Referência bibliográfica


GOLDSCHMIED, E; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos – O atendimento em creche, 2ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2006.

MAJEM, T; ÒDENA, P. Descubrir Jugando, 3ª ed. – Barcelona: Octaedro, 2010.


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