Por Marcela Chanan
Não me recordo qual foi a primeira vez que ouvi sobre os contextos na perspectiva de proposições na educação infantil, mas de repente eles invadiram as redes sociais. Tenho acompanhado publicações sobre os contextos de aprendizagem ou de investigação e as perguntas que rondam esse tema são: qual a diferença entre eles? Afinal, o que são?. Fiz cursos, pesquisei referências e dialoguei com minha própria prática para chegar no que trago aqui. Porém, é uma breve reflexão que está em processo e reflete o meu entendimento atual sobre o assunto, minhas escolhas e concepções.
O interesse neste assunto partiu da curiosidade e inquietude em entender melhor essa prática, me senti provocada em indagar o meu fazer: o que ofereço as crianças seria um contexto de investigação? Uma sessão? Um território? Um ateliê?. Fiquei incomodada com a possibilidade dos contextos de investigação estarem vinculados apenas a esse tipo de proposta organizada como nas fotos abaixo. Minha base é a cultura do ateliê que considera a escola inteira como espaço de pesquisa, investigação e criação. Tem a estética como um valor importante e um olhar integrado para as aprendizagens.
Não sou contra os "contextos de investigação", só acho que a forma como tem sido disseminada não reflete as concepções que acredito, eu mesma faço propostas como os registros abaixo, mas com outra perspectiva. Também prefiro contextos simples e equilibrados sem super produções ou excessos de estímulos visuais, sou básica.
Outra inquietude é a hipervalorização dos contextos de investigação, praticamente se tornaram sinônimo da "atividade do dia", observo muitos contextos repetidos, reproduções, pouca autoria e criação docente, enfim modismo que não transforma realidade alguma, falas sem nexo "inspiradas pela abordagem Reggio Emilia"...será? Muda-se o nome e a postura continua a mesma, sem a união entre teoria e prática.
É preciso ter consciência do próprio fazer, clareza do porque propõe determinado contexto. E esse saber vem da pesquisa, da prática, do estudo, da observação, da reflexão e da troca. O modismo e o uso das palavras desenfreado sem saber os conceitos que as envolvem leva a muitos equívocos. A escola é um espaço de investigação, mas não quer dizer que tudo é investigação; nessas pesquisas sobre os contextos me deparei com os seguintes termos: contexto investigativo, projeto investigativo, espaço investigativo, intencionalidade investigativa e fotografia investigativa. Ok!?
Ouvi dizer que no contexto investigativo o adulto prepara o espaço, os materiais e observa o que vai acontecer...Como assim? Sem saber o que olhar, sem planejar o tempo ou possíveis formas de intervir...isso é abandono, espontaneísmo. É urgente romper com essa prática esvaziada.
Mais algumas perguntas surgiram sobre os contextos: qual a diferença entre cantos e contextos? Para mim é principalmente a perspectiva que muda do adulto para a criança. E entre projetos e contextos? Essa é mais complexa, pois um projeto tem contextos, preciso ter novas vivências para experimentar e refletir, mas considero o trabalho com projetos (em uma determinada perspectiva) a partir de 3 anos.
O que envolve pensar os contextos na educação infantil?
Envolve rever toda a fundamentação e as concepções. Dialogar com as pedagogias participativas, ter a criança na centralidade do processo educativo e articular o currículo, os saberes da criança e do patrimônio da humanidade. Vale lembrar que os currículos são plurais, documentos vivos.
Você sabe como se organiza a ação pedagógica na sua instituição? Quando fiz pedagogia, há mais de 15 anos, aprendi a trabalhar com os projetos, as sequências didáticas e as atividades permanentes - uma concepção tradicional centrada no adulto. Hoje o projeto já não é mais o mesmo existem diversas concepções, não se trabalha com sequência didática na educação infantil e as atividades permanentes foram ressignificadas. Falar de contextos de aprendizagem ou contextos educativos já traz esse novo olhar de que não há um momento especifico e único para aprender e sim a escola toda precisa ser este contexto rico em possibilidades de pesquisa, descoberta, invenção, materialidades, natureza, desafios motores, acolhimento, relações respeitosas, ambientes provocativos, múltiplas linguagens etc.
Já é sabido que os bebês e as crianças aprendem pelo brincar e pelas interações em um processo não linear de construção de conhecimento, partindo de uma relação de vínculo com o adulto e do estabelecimento de um clima saudável. As experiências vividas na escola precisam ser planejadas com intencionalidade, sentido e continuidade sem esquecer da complexidade, do respeito aos ritmos e tempos.
Não basta preparar um espaço e materiais e dizer que é um contexto de investigação, uma escola que investiga vai muito além, a investigação pressupõe uma problemática, a resolução de um problema, sem o docente responder a pergunta da forma convencional e sim alimentar as perguntas das crianças e criar condições para expressá-las, dentre outros aspectos.
Um docente curioso não se acomoda, cria com autoria suas práticas, aceita o não saber, observa, escuta, registra, deseja saber, está presente, junto, aberto, acolhe as perguntas e se pergunta. Valoriza, promove e sustenta a curiosidade das crianças, busca indícios, legitima as teorias infantis, oferece contextos com as múltiplas linguagens, planeja, projeta, relança, erra, acerta, tenta, reflete, cria cenários convidativos. Leia a obra Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire e veja que a escolha de ser professor exige uma certa postura profissional. Lembre-se que:
"Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante." Paulo Freire
Em quais contextos os bebês e as crianças aprendem e investigam?
O cuidar e o educar são indissociáveis, portanto os bebês e as crianças aprendem, investigam e pesquisam em todas as situações cotidianas: cuidados pessoais, acolhimento, apoio ao desenvolvimento da autonomia, exploração do contexto da sala referência, do parque, do corredor, do refeitório, do pátio, das transições, do solário, da sala de arte ou ateliê, durante a entrada e a saída enfim em todos os momentos. Para mim o que faz sentido é a escola toda como um contexto de aprendizagem ou um contexto educativo, considerando contextos amplos e específicos que garantem os seis direitos de aprendizagem (conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se) e articulam os campos de experiência nutrindo as interações, a imaginação, a fantasia, a criatividade, as pesquisas, enfim...a subjetividade, a poética e as narrativas infantis.
É ainda no cotidiano que o currículo emergente se faz presente, onde a vida é conteúdo. A repetição de algumas situações gera previsibilidade, antecipação, intimidade e apropriação da vida cotidiana com abertura para o inusitado e o encantamento.
Quando penso em como qualificar minhas práticas e fazer uma curadoria potente, me oriento pelos princípios éticos, estéticos e políticos das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil para pensar os espaços, os materiais, os tempos e as relações.
Ainda existem muitos aspectos para pensar e aprofundar, mas acredito que não há uma regra única como: deve ser em pequenos grupos, deve ter mais de um contexto...isso vai depender da realidade de cada instituição. Dê seu melhor, dentro das suas possibilidades, estude, registre, reflita, troque, busque parcerias (mesmo que fora da instituição) construa seu percurso com as crianças.
Compartilho abaixo um rascunho inicial quando me dispus a pensar o que significava os contextos, um pensamento bem emaranhado (rizomático), tentei redesenhar e organizar de forma que pudesse ajudar na compreensão, mas não consegui tamanha complexidade. Também não sei se consegui ser clara no texto, não tenho a resposta pronta, a única certeza que tenho é o que não é contexto de aprendizagem e investigação.
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